Mais energia de Fermi

O nosso objetivo é obter expressões para a Energia de Fermi para os seguintes casos:

  1. um gás a temperatura zero
     E_{F}=(\frac{h^2}{8m} ) (
\frac{3n_{e}}{\pi} )^{\frac{2}{3}}
(1)

  2. um gás não-degenerado e ionizado
    E_{F}=-kT\ln ( \frac{T^{3/2}}{n_{e}} )-\frac{3}{2}kT\ln ( \frac{2\pi mk}{h^2})-kT\ln 2 (2)

  3. um gás fracamente degenerado;
    
E_{F}=-kT\ln ( \frac{2\pi mk}{h^2} )^{3/2} - kT\l...
...frac{n_{e}}{2^{1/2}} (
\frac{h^2}{2\pi mkT} )^{3/2}
(3)

  4. um gás altamente degenerado e ultra-relativístico.
     \frac{1}{E_{F}} = \frac{1}{E_{F}(T=0)}[ 1+\pi^2(\frac{kT}{E_{F}})^2 ]^{1/3}
(4)

Para um gás em equilíbrio, a configuração mais provável depende da natureza do gás. Temos as partículas:
1) idênticas, mas distingüíveis, que são partículas clássicas;
2) idênticas, mas indistingüíveis de spin semi-inteiro e
3) idênticas, mas indistingüíveis de spin inteiro.
Assim, para partículas clássicas, temos

 n(p)dp = \frac{g(p)}{(e^{E-\mu)/kT}+0}dp est. de Maxwell-Boltzmann (5)

para partículas quânticas como elétrons, pósitrons e neutrinos temos
 n(p)dp = \frac{g(p)}{(e^{E-\mu)/kT}+1}dp est.de Fermi-Dirac (6)

para partículas quânticas como fótons, mésons $\pi$ e partículas $\alpha$ temos
 n(p)dp = \frac{g(p)}{(e^{E-\mu)/kT}-1}dp est. de Bose-Einstein (7)

Da termodinâmica, sabemos que $\mu = ( \frac {\partial E}{\partial N} )_{s,v}$, onde $N$ é a densidade total (número de partículas por unidade de volume), sendo normalizado da seguinte forma:

N=\int_{0}^{\infty}n(p)dp
(8)

Na Estatística de Fermi-Dirac,
 \mu =E_{F}(T) (9)

onde $E_{F}$ é chamada de energia de Fermi, dependendo fracamente da temperatura.

Gás, T=0

O fator de degenerescência pode ser obtido usando-se o princípio da incerteza Heisenberg e fato de que para elétrons e para fótons podem existir dois estados de polarização (spin), e que o volume do espaço de momentum, para o qual o vetor $\vec p$ tem magnitude constante p, é simplesmente o volume da casca esférica, $4 \pi p^2 dp$:


g(p)dp=\frac{2}{h^3}4 \pi p^2 dp.
(10)

Todas as partículas possuem energia $E < E_{F}$, estando os estados cuja energia $E>E_{F}$ desocupados. Portanto, a partícula mais energética tem momento $p_{F}$ e a integral da equação (8) fica:

 n_{e}=\int_{0}^{p_{F}}\frac{2}{h^3}4\pi p^2 dp=\frac{8\pi}{3h^3}p_{F}^3 (11)

Assim,

p_{F}=\frac{h}{2}( \frac{3n_{e}}{\pi} )^{1/3}.
(12)

A esta temperatura podemos considerar a velocidade não relativística ($p=mv$)

 E_{F}=\frac{1}{2}m\frac{p_{F}^2}{m^2}=\frac{p_{F}^2}{2m}=\frac{h^2}{8m} ( \frac{3n_{e}}{\pi} )^{2/3} (13)

Gás não-degenerado, ionizado

Para um gás não degenerado e monoatômico com baixa densidade, as expressões para $n(P)$ clássicas e quânticas devem ser iguais. A expressão clássica para $n(p)$ é


n(p)=\frac{4\pi np^2}{(2\pi mkT)^{3/2}}e^{\frac{-p^2}{2mkT}}.
(14)

Já a equação corresponde da mecânica quântica (com $\mu $ grande e negativo) para $n(p)$ é

 n(p)= e^{\mu/kT} \frac{8\pi p^2}{h^3} e^{\frac{-p^2}{2mkT}} (15)

Igualando as duas expressões acima, temos
 e^{\frac{\mu}{kT}} \frac{8\pi}{h^3}=\frac{4\pi n}{(2\pi mkT)^{3/2}} (16)

Simplificando a expressão (16), podemos obter uma expressão para $\mu $
 \mu=-kT \ln ( \frac{T^{3/2}}{n} )-\frac{3}{2} kT\ln ( \frac{2\pi mk}{h^2} )-kT \ln 2 (17)

Como $E_{F}\equiv \mu$, então
 E_{F}=-kT \ln ( \frac{T^{3/2}}{n} )-\frac{3}{2} kT\ln ( \frac{2\pi mk}{h^2} )-kT \ln 2 (18)

Gás fracamente degenerado

Um gás de elétrons é descrito pela estatística de Fermi-Dirac. Assim, a densidade de elétrons com momentum $p$ entre $p$ e $p+dp$ é dada por

 n_{e}(p)dp=\frac{2}{h^3}4\pi p^2P(p) (19)

onde $P(p)$ é definido como índice de ocupação para um de gás de Fermi.
 P(p)=[ e^{\frac{E-\mu}{kT}} +1 ]^{-1} = \frac{1}{e^{\frac{E-\mu}{kT}}[1+e^{-\frac{E-\mu}{kT}}]} (20)


P(p)\simeq e^{-\frac{E-\mu}{kT}} [ 1-e^{-\frac{E-\mu}{kT}}].
(21)

Por conseqüência, temos
n_{e}=\frac{8\pi}{h^3} \int \frac{p^2 dp}{e^{(\epsilon -\mu)/kT}+1}

Utilizando a eq. (21) na eq. (19) e definindo $x=p/\sqrt{2mkT}$, com $E \ll mc^2$, obtemos
$ n_{e}(p)$ $\textstyle =$ $ \frac{8\pi (2mkT)^{3/2}}{h^3} [e^{\mu/kT} \int_{0}^{\infty}e^{-x^2}x^2dx- e^{2\mu /kT}\int_{0}^{\infty} e^{-2x^2}x^2 dx ]$ (22)
  $\textstyle =$ $ \frac{8\pi (2mkT)^{3/2}}{h^3} [ e^{\mu/kT} \frac {\sqrt{\pi}...
...c{2(2\pi mkT)^{3/2}}{h^3} e^{\mu
/kT}(1-\frac{e^{\mu/kT}}{2^{3/2}} )$ (23)
  $\textstyle \simeq$ $ \frac{2(2\pi mkT)^{3/2}}{h^3} e^{\mu
/kT}(1-\frac{e^{\mu_{0}/kT}}{2^{3/2}} )$ (24)

onde $\mu_{0}$ é o potencial químico de um gás não-degenerado, dado pela eq. (13).

Simplificando a eq. (24), obtemos:

 e^{\mu/kT}=\frac{n_{e} h^3}{2(2\pi mkT)^{3/2}} ( 1-\frac{e^{\mu_{0}/kT}}{2^{3/2}} ) (25)

 \mu=kT \ln [ \frac{n_{e} h^3}{2(2\pi mkT)^{3/2}} ( 1-\frac{e^{\mu_{0}/kT}}{2^{3/2}} ) ] (26)

 \mu=-kT \ln [ \frac{2(2\pi mkT)^{3/2}}{n_{e} h^3} ( 1-\frac{e^{\mu_{0}/kT}}{2^{3/2}} )^{-1} ] (27)

Mas $\ln (1+x) \simeq x$, se $x\ll 1$, então fazendo $x= -\frac{e^{\mu_{0}/kT}}{2^{3/2}}$
 \mu=-kT \ln [ \frac{2(2\pi mkT)^{3/2}}{n_{e} h^3} ( 1-\frac{e^{\mu_{0}/kT}}{2^{3/2}} )^{-1} ] (28)

utilizando a equação (16) para o termo em $\mu_0$, obtemos:

\mu=-kT\ln (\frac{2\pi mk}{h^2} )^{3/2}-kT\ln \le...
...e}} ) -\frac{n_{e} h^3}{2^{5/2}(2\pi m)^{3/2}(kT)^{1/2}}
(29)

Como $E_F \equiv \mu$:

E_{F}=-kT\ln ( \frac{2\pi mk}{h^2} )^{3/2} - kT\l...
...c{n_{e}}{2^{5/2}} (
\frac{h^2}{2\pi mkT})^{3/2} kT.
(30)

Gás altamente degenerado, ultra-relativístico

Neste regime, $\mu\gg kT$ Temos que

 I=\int_{mc^2}^{\infty} f(\epsilon ) g(\epsilon )d\epsilon (31)

onde $f(\epsilon )$ é a probabilidade que um particular estado de momentum esteja ocupado.
 f(\epsilon )=\frac{1}{e^{(\epsilon -\mu)/kT}+1} (32)

$df/d\epsilon =f'(\epsilon )$ tem um máximo em $\epsilon =\mu$ e é pequeno para valores de $\epsilon $ que são ou muito menores ou muito maiores do que $\epsilon =\mu$. As funções $g(\epsilon ) $variam muito menos que $f(\epsilon )$. Integrando a eq. (32) por partes, temos
 I=f(\infty) \int_{mc^2}^{\infty} g(\epsilon ')d\epsilon '-f(...  ...f'(\epsilon ) \int_{mc^2}^{\epsilon }g(\epsilon ')d\epsilon '.  (33)

Podemos definir
 G(\epsilon )=\int_{mc^2}^{\epsilon }g(\epsilon ')d\epsilon ' (34)

A eq. (32) fica

I=f(\infty) G(\infty)-f(mc^2)G(mc^2) -\int_{mc^2}^{\infty}
f'(\epsilon ) \int_{mc^2}^{\epsilon }g(\epsilon ')d\epsilon ',
(35)

mas $f(\infty)$ e $G(mc^2)$ são zero.

Logo, podemos escrever a eq. (32) como

 I=-\int_{mc^2}^{\infty} f'(\epsilon ) G(\epsilon )d\epsilon (36)

Podemos, agora, definir $x=(\epsilon -\mu)/kT$ e expandir $G(x)$ em séries de Taylor para $x=0$. Obtemos

G(x)=\sum_{n=0}^{\infty}\frac{x^n}{n\!} G^n(0),
(37)

com
 G^0(0) \equiv \int_{mc^2}^{\mu}g(\epsilon )d\epsilon (38)

Por outro lado,

G^n(0)=(kT)^n (\frac {d^{n-1}g(\epsilon )}{d\epsilon ^{...
...psilon =\mu}
\equiv(kT)^ng^{n-1}(\mu), \: \: n=1,2,3,{\ldots}
(39)

Utilizando as eq. (38-40) na eq. (37), temos

 I=-G(0)\int_{mc^2}^{\infty}f'(\epsilon )d\epsilon -\sum_{n=1...  ...n}{n\!}g^{n-1}(\mu)\int_{x=-(\mu-mc^2)/kT}^{\infty}x^nf'(x)dx.  (40)

Entretanto,

\int_{mc^2}^{\infty}f'(\epsilon )d\epsilon \simeq 1,
(41)

pois $f'(\epsilon )$ tem o comportamento semelhante ao da função Delta de Dirac (em um gás fortemente degenerado), onde


 f'(x) = -\frac{e^x}{kT [e^x +1]^2}=-\frac{1}{kT (e^x +1)(e^{-x} +1)} (42)

Podemos notar que $f'(x)$ é uma função par. Como $\mu-mc^\gg kT$, podemos analisar a integral do segundo termo da eq. (41) como tendo os limites $\infty$ e $-\infty$. Desta forma, apenas valores pares de $n$ terão importância na integral mencionada e, por conseqüência, apenas as derivadas ímpares da função $g(\epsilon ) $ aparecerão na expressão final para $I$.

Como $x=\mu /kT$ é positivo, então podemos escrever $\frac{1}{(e^x +1)(e^{-x}+1)}$ como a expansão binomial

 \frac{1}{(e^x +1)(e^{-x}+1)} =\frac{e^{-x}}{(1+e^{-x})^2}=-\sum_{m=1}^{\infty}(-1)^m me^{-mx} (43)

Assim, a integral do segundo termo da eq. (41) se torna
(\frac{2}{kT})\sum_{m=1} (-1)^{m}m \int_{0}^{\...  ...T} \sum_{m=1}^{\infty}\frac{(-1)^m}{m^n} n=par. (44)

Podemos, agora, escrever a eq. (32) como
 I=\int_{mc^2}^{\mu}g(\epsilon )d\epsilon -2\sum_{n=1}^{\infty... \sum_{m=1}^{\infty}\frac{(-1)^m}{m^{2n}} (45)

ou então
$ I$ $\textstyle =$ $ \int_{mc^2}^{\infty}\frac{g(\epsilon )}{e^{(\epsilon -\mu)/kT}+1}$  
  $\textstyle =$ $ \int_{mc^2}^{\mu}g(\epsilon )d\epsilon +\frac{\pi^2}{6}(kT)^2 \le...
...}{360} (kT)^4 (
\frac{d^3g}{d\epsilon ^3} )_{\epsilon =\mu}+{\ldots}$ (46)

Escrevendo uma expressão para a densidade de elétrons dada na eq. (19) como função de $\epsilon $ com $\epsilon ^2=p^2c^2+(mc^2)^2$, obtemos
 n_{e}=\frac{8\pi}{h^3c^3} \int_{mc^2}^{\infty} \frac{\epsilo...  ...rt{\epsilon ^2-(mc^2)^2}d\epsilon }{e^{(\epsilon -\mu)/kT}+1} (47)

A equação (48) implica que


g(\epsilon )=\frac{8\pi}{h^3c^3} \epsilon \sqrt{\epsilon ^2-(mc^2)^2}.
(48)

A derivada de $g(\epsilon ) $ fica

(\frac{dg(\epsilon )}{d\epsilon } )_{\epsilon =\...  ...c{8\pi}{h^3c^3} \frac{2\mu^2-(mc^2)^2}{\sqrt{\mu^2-(mc^2)^2}} (49)

Deste modo, usando as eq. (47-50) e considerando apenas os dois primeiros termos do lado direito da eq. (47), obtemos
$ n_{e}$ $\textstyle =$ $ \frac{8\pi}{h^3c^3} [ \int_{mc^2}^{\mu} \epsilon \sqrt{\epsi...
...^2}{6}(kT)^2
(\frac{2\mu^2-(mc^2)^2}{\sqrt{\mu^2-(mc^2)^2}}) ]$  
  $\textstyle =$ $ \frac{8\pi}{h^3c^3} [ \frac{(\epsilon ^2-(mc^2)^2)^{3/2}}{3}...
...}{6} (kT)^2 (\frac{2\mu^2-(mc^2)^2}{\sqrt{\mu^2-(mc^2)^2}}
) ]$  
  $\textstyle =$ $ \frac{8\pi}{h^3c^3} [ \frac{(\mu^2-(mc^2)^2)^{3/2}}{3} +
\fr...
...{6} (kT)^2 (\frac{2\mu^2-(mc^2)^2}{\sqrt{\mu^2-(mc^2)^2}}
) ].$ (50)

Para um gás não relativístico de elétrons podemos definir o potencial químico $\mu $ como

 \mu_{1}=\mu-mc^2 (\mu_{1}\ll 1) (51)

manipulando a eq. (52), obtemos

\mu^2 \simeq (mc^2)^2 +2\mu_{1}mc^2.
(52)

Substituindo a expressão para $\mu^2$ da eq. (52) na eq. (51) nos dá

 n_{e}=\frac{32\pi (m\mu_{1})^{3/2}}{3\sqrt{2}h^3} [1+ \frac{\pi^2}{8} (\frac{kT}{\mu_{1}} )^2 ] (53)

Como $\mu_{1}/mc^2 \ll 1$, a eq. (53) fica

$ \frac{1}{\mu_{1}}$ $\textstyle =$ $ \frac{1}{\mu_{0}} [1+\frac{\pi^2}{8}
(\frac{kT}{\mu_{1}} )^2 ]^{2/3}$  
  $\textstyle \simeq$ $ \frac{1}{\mu_{0}} [1+\frac{\pi^2}{8}
(\frac{kT}{\mu_{0}} )^2 ]^{2/3},$ (54)

onde
 \mu_{0}=( \frac{h^2}{8m} )(\frac{3n_{e}}{\pi} )^{2/3} (55)

Note-se que o potencial químico $\mu_{0}$ é a Energia de Fermi $E_{F}$ da expressão (13).

Como $\mu_{0}\gg kT$, então

 \mu_{1}=\mu_{0} [ 1-\frac{\pi^2}{12} ( \frac{kT}{\mu_{0}})^2 ]. (56)

Para um gás ultra-relativístico, $\mu \gg mc^2$ e a eq. (51) se torna
$ \frac{1}{\mu^3}$ $\textstyle =$ $ \frac{1}{\mu_{0}^3}[1+\pi^2
(\frac{kT}{\mu})^2 ]$  
  $\textstyle \simeq$ $ \frac{1}{\mu_{0}^3}[1+\pi^2
(\frac{kT}{\mu_{0}})^2 ],$ (57)

com $\mu_0^3 \equiv \mu_{T=0}^3=3n_{e}h^3c^2/8\pi$.
Volta Energia de Fermi
Volta Evolução Estelar
Volta Astronomia e Astrofísica


©
Modificada em 15 março 2006